Já é noite e o grupo ainda segue leste, caminhando entre colinas em direção à floresta dos antigos.
- Ei, raposo - diz a fira - Você falou uma palavras antes de usar a magia para imobilizar o demônio, mas não vi você fazendo o mesmo quando usando magia para acender tochas… As magias funcionam de jeitos diferentes?
- Claro que sim - responde o feiticeiro - Quando você usa elas no dia a dia, não precisa falar nada, mas quando usa em combate, precisa falar o tipo e o nome da magia.
- Me pergunto a razão por trás disso…
- Simples, por estilo! Você quer parecer legal quando usando magias em combate, mas se ficar gritando sempre que for acender uma tocha ou esfriar uma caneca de cerveja vai acabar perdendo a voz.
- Pera, então é tudo opcional? Você só fala o nome da magia pra chamar a atenção?!
- Sim… - o tailox responde como se não entendesse o que não ficou claro na sua explicação.
- Você é um idiota mesmo! Se tivesse se concentrado no que importa, não teria perdido uma costela!
- Uh, tá preocupada com o meu bem estar? - diz o tailox num tom jocoso - Meu ato de heroísmo despertou algo dentro de você, dama guerreira?
- Urg - a fira faz cara feia - Sai pra lá.
O tailox já ia rebater, mas um som estrondoso o faz fechar a matraca e prestar atenção nos seus arredores. Todos olham ao redor, até que veem uma gigante silhueta se aproximando por entre as colinas.
- Um gigante? - pergunta o levent paladino.
- Não, um troll - responde o aesir.
- Um troll, desse tamanho? - pergunta o tailox - Nas histórias eles são menores.
- Esse é diferente, só existe nessa região e mesmo assim é extremamente raro… As lendas se referem a esses tipos como colossus.
- Vamos fugir! Ele não viu a gente ainda e… - a fira é interrompida pelo rugido da criatura - Esqueça, estamos ferrados.
- Seus olhos são extremamente sensíveis à luz e ao calor, deve ter nos visto a quilômetros - o aesir prepara suas armas - O que precisamos, é de um plano.
- Nas histórias, são fracos contra fogo! - exclama o tailox.
- Não há nada que você possa jogar nessa criatura, que ela não aguente. Nosso objetivo não é derrotá-lo, é fugir.
O silêncio se estabelece, os únicos sons são os da passada e respiração pesada do troll, que se aproxima cada vez mais.
- Eu posso nos dar uma chance - diz a fira - Você disse que é sensível ao calor?
- Eu já disse, não vai ser o suficiente… - o aesir começa a dizer, antes de ser interrompido.
- Ele não, bárbaro. Tô falando dos olhos.
- Uhm, pretende cega-lo?
- Eu só preciso chegar lá em cima…
- Talvez se… - o tailox olha para o levent.
- Não, me desculpe. Eu não sou forte o suficiente para carregá-la.
- Conseguem derrubar ele? - pergunta a guerreira do deserto - Ele fica mais fácil de escalar do joelho para cima. Posso escalar até a cabeça se começar ali, mas vocês vão precisar distraí-lo. Não quero ser esmagada.
O aesir sorri de canto de boca e puxa seu machado. Ele passa sua mão pela lâmina e sangue escorre pelo chão.
- Farei se ajoelhar - ele diz antes de todas as veias em seu corpo pulsarem enquanto rosna e espuma - FAREI SE AJOELHA!!!
O grupo para para a ação. O levent foca-se em voar ao redor da criatura, distraindo-a o suficiente para que o time de solo se aproxime. Enquanto a fira sobe na árvore mais alta, o aesir e o tailox correm a toda velocidade até o colosso. Este, por sua vez, percebe suas aproximações, apesar dos esforços do paladino alado, e arremessa pedras e arvores na direção dos dois. O tailox desenha uma runa enquanto corre e o chão sob si congela, permitindo deslizar por baixo de uma das toras que fora arremessada. Enquanto isso, o aesir enfrenta o perigo frente a frente, destruindo com seu machado qualquer rocha arremessada em sua direção.
Os dois eventualmente se aproximam. O aesir então atinge a perna da criatura com toda a sua força, quebrando parte da camada pedregosa que a cobria, e o tailox aproveita a oportunidade e começa a desenhar uma runa arcana no ar.
- AJOELHE SE PERANTE MIM!!! - grita o guerreiro em fúria.
- Magia arcana, estilo fogo… Bola de fogo!!! - grita o tailox após concluir sua complicada fórmula mágica.
Um ponto na área vulnerável na perna do colosso brilha com calor concentrado por segundos, antes de explodir em uma esfera de chamas. A criatura grita e cai de joelhos. Nesse momento, a fira conjura todas as suas forças e pula para o abdômen da criatura, fincando duas adagas e começando a escalar. A criatura percebe o que estava havendo e tenta impedi-la.
- Paladino, agora! - grita o tailox.
Nesse exato momento, o levent voa ao redor dos braços do troll, enrolando-os em diversas cordas, cada uma pertencente a um membro do grupo. Ele então voa até o aesir, enrolando-as ao redor do corpo do mesmo.
- FÚRIA BESTIAL!!! - grita o aesir, enquanto tenta impedir que o colosso esmague sua companheira.
- Magia arcana, estilo ra… Ah, tanto faz! - o tailox começa a desenhar uma runa arcana o mais rápido que pode.
Uma força eletromagnética fixa os pés do guerreiro ao chão e suas mãos às cordas.
A fira está chegando cada vez mais próxima da cabeça da besta, enquanto que esta ruge e grunhi, tentando se desvencilhar das amarras. Quando finalmente chega no rosto do gigante, faz algo que acreditava já ter perdido a prática.
- Hou, se está me ouvindo e for de sua vontade, dai me forças para enfrentar este inimigo - ela hora ao Fogo - Se estiver ocupado ou não quiser me ajudar, então vá queimar no maldito inferno!!! - ela então faz seus braços irromperem em chamas e os enfia nos olhos da criatura.
A dor súbita faz com que os instintos de sobrevivência do troll despertem uma força maior, este se desvencilha das amarras, com o aesir sendo jogado metros no ar.
O levent voa desesperadamente, tentando pegar o grande guerreiro. O peso do aesir é enorme, mas a determinação do paladino é maior. Este consegue o interceptar no ar e leva-lo ao chão em segurança, colapsando logo depois.
- Sai daí! - grita o tailox - Já está feito! Vamos fugir! Ele está cego! - mas a fira não o ouve, ela está ocupada contemplando as chamas e inspirando o cheiro de carne queimada.
A criatura está prestes a esmagá-la, quando algo inesperado acontece. Do próprio chão, várias vinhas e cipós surgem, envolvendo os braços da criatura e a imobilizando por mais alguns segundos. Felizmente, esses foram os segundos o suficiente para que a fira perfurasse os olhos da criatura profundamente o bastante, para atingir seu cérebro.
O gigante morre assim, de joelhos e com os rosto completamente carbonizado. Então, a fira sobe até o topo do gigante e, antes que esse possa tombar sobre o próprio peso, ela vê o sol nascer no horizonte. Quando os raios de sol tocam a pele da criatura, ela se torna pedra.
Aos seus companheiros em solo, resta a visão da fira sobre a cabeça de uma estátua de um troll de joelhos e em agonia, cercada pela luz do nascer do sol. A visão dura pouco, pois a guerreira colapsa e cai. O tailox, único que não foi ferido e não está exausto da batalha, corre para aparar a sua queda. Ela cai sobre ele, mais pesada do que imaginava, mas não se feriu.
- Você quase morreu lá em cima - diz o tailox - Essa foi a coisa mais estúpida que eu já vi.
- Eu estava cansada de ver vocês brincarem de heróis o dia todo - ela diz sorrindo de canto de boca - Então decidi mostrar como se faz de verdade.
Quando a luz do sol reflete sob a estátua do gigante, vários pequenos brilhos chamam a atenção do grupo. Quando se aproximam, percebem que existem várias gemas preciosas incrustadas na pele da criatura, o bastante para qualquer um se aposentar.
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